segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Eluana Englaro


Notícia do portal Camineo.info : O Cardeal-Arcebispo de Gênova, Ângelo Bagnasco, presidente da Conferência Episcopal Italiana publicou ontem, ante o caso de Eluana Englaro, no Avvenire um editorial intitulado "Mais obscuridade em nós e a vida mais atacada": Um artigo que, comentando esta tragédia, acaba dizendo "não podemos calar". Eluana começou o caminho forçado até a morte, porque iniquamente está sendo privada de alimentos e água. Se não surgirem novos fatos, este será seu injusto destino.
Embora muitos reconheçam que está em estado vegetativo permanente, esta jovem mulher não está conectada a nenhuma máquina e respira livremente. Portanto não é preciso desconectar nenhuma máquina, como se quer fazer crer. Para viver necessita alimentar-se, como todos, ainda que em seu caso deve ser ajudada, pois não pode fazê-lo sozinha. Mas existe outra máquina destinada a encurralar nossa sociedade. E não só aos crentes ou às pessoas que compartem a mesma sensibilidade cultural. Há uma pergunta que não pode ser censurada: Como é possível fazer morrer a uma pessoa em nome de uma sentença?
Como se pode tolerar, na mentalidade comum, que passe uma pretensão como necessidade, isto é, o direito a morrer, em lugar de sustentar e garantir, inclusive nas situações mais extremas, o direito à vida? Ante esta situação há que se falar de eutanásia, que é uma falsa solução ao drama do sofrimento, uma solução indigna do homem, como recordou recentemente Bento XVI, o qual acrescentou que a verdadeira resposta não pode ser a de fazer morrer, ainda que seja por meio da "doce morte", senão dar testemunho do amor, que ajuda a afrontar a dor e a agonia de maneira humana.
Verdadeiramente, diz o purpurado italiano, uma pergunta aborda nossa consciência: não dar alimento e água a uma pessoa, como se pode chamar senão homicídio? Ante o drama da vida débil ou ferida, a única resposta razoável e humana que traduz o tormento interior que a todos nos afeta é a das religiosas de Lecco. Durante 15 anos estas religiosas acolheram com amor a Eluana, atendendo-la dia e noite e manifestando até o fim o desejo de gerá-la cada dia com o amor. Desta maneira mostraram, não com palavras, como se atua ante o imprevisível da dor e como se atua ante a indisponibilidade da vida. Uma luz está se apagando, a luz de uma vida. E a Itália está mais obscura.
Um grande vazio nos sobrevoa, destinado a crescer nos dias que se sucederão. E não só porque Eluana não estará já mais entre nós, senão porque a cultura hegemônica mais uma vez haverá negado a realidade da limitação, a realidade da dor que a razão - inclusive buscando aliviá-lo - o considerou sempre parte da vida mesma. A realidade do sofrimento que a fé não exalta em si, mas que na cruz de Cristo se ilumina de significado e de valor. Se percebe a sensação de que a confiança recíproca falhe, pois de fato falhou o favorecer à vida, que desde sempre é a base das relações interpessoais.
Devemos preocupar-nos seriamente ante a concatenação de circunstâncias que vão produzindo um êxito inaceitável como este. Este doloroso assunto que vê no centro uma pessoa que todos sentimos nossa, nos deixou mais inseguros. Não percamos a ocasião para reafirmar de maneira mais convencida e coral o sim à vida; para dar, como sociedade, um passo decisivo e exemplar no caminho do humanismo real e não de palavrório. Por isto não podemos calar.