segunda-feira, 2 de março de 2009

O Princípio Antrópico


Tradução de uma reportagem do site Camineo.info:
Mn. Francesc Nicolau i Pous
26-02-2009

CAMINEO.INFO.- O cosmólogo Branden Cárter, do observatório Meudon de Paris, chamou "Princípio Antrópico" ao enunciado que afirma que as condições que existem no universo são as necessárias para que exista vida inteligente. Era uma simples constatação. Mas muitos cosmólogos ecoaram esta afirmação, que tem sido comentada e interpretada de diversos modos. Resumindo, podemos dizer que hoje em dia as formulações deste princípio se reduzem a duas: a "fraca" (que afirma o fato: as condições que apresenta o cosmos são as que fazem que possa existir vida inteligente) e a "forte" (que diz que com estas condições necessariamente teria de surgir vida inteligente no universo que conhecemos), mas ambos os enunciados admitem variantes.

Trata-se de uma constatação importante .

O que provocou a idéia deste princípio é a constatação de como uma pequena variação dos valores das constantes cosmológicas tem descoberto teria originado um cosmos diferente e incapaz de abrigar a vida. De todo modo, uma constatação não é propriamente um princípio que teria a categoria de uma lei natural. O enunciado fraco se limita a dar fé de um fato. Como disse Robert Dicke, físico de Princeton, em 1961, só poderia ter categoria de princípio caso fosse entendido no sentido "forte", deste modo: "Dado que no cosmos teria de haver vida inteligente, por esta razão tomaram as constantes físicas os valores que possuem, para que a vida inteligente existisse". Pode-se enunciar assim? Se se diz deste modo, nos encontramos que é como se enunciasse um designio divino. Pode a pura ciência afirmar tal coisa?.

O que é claramente científico é o que se tem averiguado em cosmologia sobre os valores das realidades físicas que conformam nosso universo. Se possui 13.700 milhões de anos de existência é porque este é o tempo necessário para que existam os elementos pesados (carbono, oxigênio, cálcio, ferro,...) imprescindíveis à vida, pois são sintetizados no interior de estrelas ao longo de milhões de anos. Sabemos que uma estrela em fase de supernova acaba expulsando-os para o exterior e assim podem acabar por formar depois um sol como o nosso, com planetas que possuem estes elementos. Mas há muito mais. Fred Hoyle (1915-2001) estudou como se podem formar carbono e oxigênio nas reações nucleares do interior de uma estrela que originariamente apenas possuiria hidrogênio e hélio. Foi um cálculo trabalhoso, no qual se constatou que, caso as forças nucleares não fossem as que são, o oxigênio e o carbono não poderiam ser produzidos em quantidade suficiente, e a vida no cosmos (em nossa Terra) teria sido impossível. A coincidência na síntese destes dois elementos parece uma montagem intencional; por isto Hoyle (que não crê em um Deus pessoal) se vê forçado a dizer: "Se quiséssemos produzir carbono e oxigênio nas quantidades requeridas teríamos que estabelecer com precisão estes dois níveis, e fazê-lo de forma muito ajustada. Uma interpretação razoável dos fatos é que uma inteligência superior interveio com a física, com a química e com a biologia, e que não existem forças cegas na natureza" (como não crê em um Deus cristão tem de recorrer a um certo panteísmo para das explicação ao fato).

O que foi dito poderia ser explicado por mera casualidade? Poderíamos repassar muitas outras "casualidades": a expansão do universo possui a intensidade permitir o que se originou. Uma constante de gravitação algo maior ou um pouco mais baixa não permitiria a existência de um sistema solar como o que observamos. Com uma carga elétrica um pouco distinta o elétron não permitiria a formação dos elementos que existem. Se a constante de Planck fosse outra, se a massa do próton variasse em milionésimos, se a velocidade da luz fosse mais alta, se a diferença de massa entre o nêutron e o próton fosse outra... "as estrelas e os planetas não poderiam existir... nunca se teriam formado os átomos e não estaríamos aqui para ter conhecimento disto" (J. Barrow e R. Tipler em The anthropic cosmological principle, Oxford, 1986). Nisto estão de acordo todos os físicos.

Que valor deve ser dado, portanto, ao princípio antrópico?

Contemplando friamente estes fatos, sem preconceitos, uma inteligência humana resiste a pensar que tudo deva ser atribuído à casualidade. Há os que preferem afirmar: Se existimos, dizem, é porque casualmente o cosmo é como é. Não se pode negar que não faltam à lógica pensando isto, mas muito menos faltamos a ela se, como Fred Hoyle, mas voltando-nos à transcendência, afirmamos que não são forças cegas as que construíram este universo, mas uma Inteligência superior o estruturou como o vemos.

O filósofo francês Jean Güitton em Dieu et la Science (París, 1991) diz: "O universo parece ter sido minuciosamente regulado para permitir a emergência, primeiro de uma matéria ordenada, depois da vida e finalmente da consciência. Se as leis físicas não houvessem sido rigorosamente como são, então, como sublinha o astrofísico Robert Reeves, 'não estaríamos aqui para falar sobre elas'. Melhor ainda, se o mesmo se desse com uma só das grandes constantes universais.